Crítica: “Bag Of Bones – Beware The Lake” (Parte 1)

Mais uma adaptação de King para a telinha. Dessa vez, uma de suas obras mais bem recebidas e respeitadas pela critica, “saco de ossos”. Lançada em formato de uma minissérie em duas partes, “Bag of Bones” , conta com Pierce Brosnan (007 contra GoldenEye, Marte Ataca, Inferno de Dante) no papel do protagonista Mike Noonan, Melissa George (30 dias de noite, Horror em Amtyville, Grey´s Anatomy) como Mattie Devore e Annabeth Gish (CSI, Desperation, Arquivo X) como Jo Noonan… Mick Garris, responsável por diversas outras adaptações do mestre (Andando na Bala, Desespero, O iluminado, A Dança da morte, Sonâmbulos…) foi o responsável por dar vida aos personagens na versão televisiva do livro e, como na maioria das outras vezes, fez um trabalho apenas mediano.

Logo no inicio a música contagiante de abertura do primeiro episódio da lugar as batidas pesadas de terror, seguidas pelos flashbacks rápidos da tentativa de assassinato da pobre Kyra Devore. Até aqui tudo bem, uma primeira boa impressão de uma adaptação que poderia dar certo. A panorâmica inicial do lago lembra bem outras adaptações ou até mesmo roteiros originais do próprio King, como “tempestade do século” e “Rose Red”, outro ponto positivo para Garris.

Não demora até que somos apresentados ao personagem de Mike Noonan. Mike é um escritor que só consegue escrever graças a inspiração de sua esposa, Jo (ele sempre deixa que ela termine a ultima frase do seu livro, numa espécie de “ritual”). O bom relacionamento entre o casal, aliás, é outro ponto bem abordado no filme. Até que há a morte trágica de Jo, após ela ser atropelada por um ônibus, durante uma sessão de autógrafos do novo livro de Mike. Nesse ponto Garris não poupou sutilezas. O atropelamento de Jo, apesar de rápido e pouco detalhado, é cruel, assim como seu estado e sua consequente morte , de olhos abertos e com os sangue marchando-lhe o rosto outrora bonito.

Após a morte de sua esposa, Mike passa a ser atormentado por constantes pesadelos que envolvem ela mesma e a casa do lago Dark Score, onde Jo costumava passar alguns dias. Como resultado, ele passa a sofrer de um bloqueio criativo, não conseguindo escrever mais nada, já que sua principal fonte de inspiração se fora. Ele então pede ao caseiro que prepare a casa do lago para ele e parte para lá, com a intenção de se aproximar mais da lembrança de sua falecida esposa e recuperar a sua incrível capacidade de escrever, enquanto promete para seu agente literário que terá um trabalho pronto até o próximo verão.

Já na casa do lago Mike descobre o ateliê de Jo e suas pinturas, e, junto a ele, uma maneira de se comunicar com sua falecida esposa. Ele logo descobre também que nem tudo são flores e que não é só o espirito de Jo que abriga a casa do lago. O espirito de uma cantora chamada Sara Tidwell também está lá e não é nenhum pouco pacifica.

Enquanto vai até a cidade para comer alguma coisa, Mike conhece a pequena Kyra Devore e sua mãe, Mattie Devore, nora do velho Max Devore, um milionário da indústria da informática que trava com ela uma batalha na justiça para obter a guarda da garota, após seu filho ter sido morto pela própria Mattie, enquanto ele tentava afogar Kyra no lago Dark Score. Nesse ponto somos apresentados pela primeira vez ao motivo pelo qual acontecerá a rixa entre Max e Mike, tão bem detalhada no livro, mas que na adaptação foi relegada a um vago segundo plano.

Chegando em casa Noonan recebe um telefonema do velho Max, que comenta sobre o encontro que Mike teve com sua neta e de como ele a salvou de ser atropelada devido ao suposto descuido de sua nora (o ator que interpretou Devore, a proposito, está muito bem no papel, preenchendo o personagem com o rancor e o cinismo poderio do velho Devore que conhecemos no livro, guardadas as suas devidas proporções, é claro). Mike logo é convidado para comparecer e dar seu depoimento no caso Max X Mattie Devore e aqui temos outra falha drástica do roteiro. A ideia de que ambos os personagens, Mike e Mattie, se tornaram próximos a ponto de Mike depor no caso de Kyra Devore, é abordada de maneira bastante rápida, mal dando tempo para que o telespectador assimile a ideia e compreenda a importância do futuro relacionamento entre ambos. Enquanto no romance a ambientação ocorre de maneira bem mais lenta, com King preparando o terreno aos poucos para os acontecimentos que viriam a seguir, (devido até mesmo a própria natureza midiática do livro), na adaptação talvez fosse necessário desperdiçar um pouco mais de tempo com o desenvolvimento desse trecho da historia, ainda que fosse necessário, talvez, cortar partes superficiais da trama (como os constantes pesadelos de Mike, por exemplo). Após uma reunião tensa, o primeiro embate entre Max e o velho Devore termina com um saldo positivo para Mike e a promessa de que novos confrontos viriam.

Apesar dos elementos sobrenaturais, figurinha carimbada nos romances de King, “Saco de ossos”, assim como muitas outras obras do autor, não é necessariamente um romance de terror. Ele está mais para um drama sobre como lidar com a perda de entes queridos. Adapta-lo com outra mentalidade seria, na humilde opinião de quem vos fala, errado, mas também seria errado não dar a devida importância para esses elementos, o devido cuidado, pois eles são parte de um todo que não funcionaria bem sem eles. E nesse quesito Mike Garris peca bastante. Os elementos sobrenaturais estão lá, (afinal, é uma adaptação de Stephen King), porém os momentos de tensão, a atmosfera de terror que o diretor provavelmente quis passar, não funcionam muito bem. Apesar de no livro Mike ser assombrado por constantes pesadelos, é importante frisar que numa adaptação esse tipo de abordagem, se não for muito bem utilizada, pode tornar o filme repetitivo e por vezes cansativo, o que acabou acontecendo nessa adaptação. O telespectador já podia antever, quando algo de estranho acontecia, que se tratava de um pesadelo do personagem principal (além, é claro, dos sustos, que na verdade nunca assustavam ninguém).

Pierce Brosnan envelheceu, e, ao que parece, com ele também envelheceu sua capacidade de interpretar. Como um homem que perdeu a esposa, fonte principal de sua inspiração e amor de sua vida, o Mike Noonan de Brosnan simplesmente não me convenceu. Faltou, ai, um pouco mais de empenho por parte de Brosnan. Em grande parte do tempo sua intepretação limitou-se a trejeitos mecânicos e extremamente simplistas. O mesmo pode se aplicar a outros personagens, incluindo Mattie e a garotinha que interpretou Kyra (que até tentou, em meio ao seu chororô desenfreado, passar uma certa carga de dramaticidade para a historia, mas que infelizmente não conseguiu. Além, é claro, da falta de carisma, proporcionalmente inversa ao que podemos observar na personagem de Kyra no romance).

Em resumo, não conseguimos ver qualidades realmente significativas, e como adaptação, a primeira parte de “Bag of Bones” deixou bastante a desejar. Será que Garris consegue se redimir na segunda parte? É o que veremos no próximo post…

Até lá King-Maníacos!

Curiosidade: Assim com o teaser site de Bag of Bones, a série também tem diversas referências ao universo de Stephen King.

  • Quando Noonan está conversando com seu agente literário por exemplo, ele informa que existem outros best sellers na lista de mais vendidos, entre eles um tal de Bachman.
  • Outra referência curiosa é o nome da editora (Scribner) que é a mesma editora de King nos Estados Unidos.
  • Nessa mesma conversa com seu agente literário, Noonan fala sobre “livros de gaveta”, que são livros escritos há muito tempo e guardados como uma especie de “reserva” para quando o escritor esteja, por ventura, sofrendo de “bloqueio de escritor”. Ao que parece, King tem alguns desses guardados em seu cofre particular.
  • A questão da perda de um ente querido é bastante corriqueira nessa adaptação.  King também já trabalhou com o tema em diversos outros livros, como “O cemitério” e “Love”
  • A atriz Annabeth Gish (a Jo da minissérie) já trabalhou em “Desespero”, outra adaptação de King.
  • Julian Richings, o advogado de Mattie Devore foi o “Otto”, o segurança e recepcionista de Kingdom Hospital, série escrita por King baseada na série original de Lars Von Trier.

Atualizado: Confira aqui a resenha da segunda parte.

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7 respostas

  1. Eu também achei que parecia ser só pesadelos, pesadelos, pesadelos. Nós que lemos o livro entendemos, mas acho que, para alguém que tem o primeiro contato, ficou bem repetitivo.
    Mas o que mais me decepcionou foi a Kyra (amei o Noonan de Brosnan). No livro ela é tão encantadora, tão amorosa.. E na tv, ela pareceu muito distante e não gostar realmente de Mike como no livro.

  2. Não li o livro ainda, mas a primeira parte não me impressionou muito… foi como um filminho de terror “legalzinho” que não impressiona nem causa sustos.
    Pode ser preconceito, mas acho que o “007” não combina com terror xD

  3. Gostei da versão (apesar de ainda não ter lido o livro) sou fã do Pierce Brosnan e acho que apesar dele não ser o melhor ator do mundo, fez um bom trabalho na série e mostrou que não é ator de um só papel. Gostei!

  4. Eu gosto muito do Pierce acho que ele continua bonito e muito carismático, o papel realmente não é fácil afinal de contas é de stephen king que estamos falando, eu gostei muito do filme, acho que a gente se acostuma a ver esses filmes de terror de agora, com muita tecnologia e sustos que quando assiste um filme de terror com mais drama, não vê graça, eu aprovei.

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