Livro da Semana: A Autoestrada

Título Original: Roadwork
Título Traduzido: A Auto-Estrada (1992/2009), A Autoestrada (2013)
Ano de Publicação: 1981
Personagens Principais: Steve Ordner, Barton Dawes, Vinnie Mason, Olivia Brenner, Mary Dawes
Cidade da História: cidade no Centro-Oeste dos EUA não nomeada
Adaptação: ———
Conexões: Desespero (Desperation, 1996) e Sombras da Noite (Night Shift, 1978)
Disponível no Brasil pelas Editoras: Francisco Alves (Os Livros de Bachman de 1992), Suma de Letras (2009), Ponto de Leitura – formato de bolso – (2013); Suma de Letras (2014)

SINOPSE

O ano é 1973. A inquietação política ronda os EUA com a guerra do Vietnã e o governo conturbado de Nixon. Entretanto, Barton Dawes está alheio a tudo isso. Ele é apenas um funcionário de uma lavanderia, cuja inquietação aparentemente é de ordem mais pessoal. Bart perdera seu filho recentemente para um tumor no cérebro, algo que deixou marcas tão profundas quanto dolorosas em sua vida pessoal. Seu casamento está por um fio e como se não bastasse ele é informado que sua casa e a lavanderia onde trabalha, dois dos seus únicos alicerces naquele momento, serão desapropriados para a construção de uma autoestrada. Suas lembranças (tanto as boas quanto as ruins), seus sonhos, até mesmo a aparente solidez que ele conseguira, a duras penas, construir após a morte do filho, estava prestes a vir abaixo por causa de corporações gananciosas (a necessidade de construir uma autoestrada naquele trecho é ínfima, mas não dizem que o progresso avança, ainda que com rodas tortas!?) e Bart parece simplesmente não assimilar isso muito bem. Ele não pretende deixar que autoestrada nenhuma passe por cima de sua vida e fará o que estiver ao seu alcance para que essa injustiça não aconteça.

RESENHA

Assim que iniciei a leitura de “a Autoestrada” a primeira impressão (e essa sensação me apareceu com mais ênfase no final) foi de que aquele seria um Bachman Book por excelência. Se você, leitor constante que ainda não se aventurou nas páginas desse livro, está pensando em fazê-lo, fica a dica: ele não é um livro escrito por Stephen King. Aqui você não encontrará personagens sobrenaturais ou gente comum em situações extraordinárias. Tudo o que acontece com Bart é passível de acontecer com qualquer pessoa psicologicamente abalada e que não tenha estrutura emocional o suficiente para lidar com as conseqüências dos seus atos.

Assim como a maioria dos romances creditados a Bachman, A Autoestrada (o terceiro publicado pelo falecido pseudônimo do Sr. King) é um livro um pouco mais denso, tanto no aspecto psicológico do personagem principal (sua “loucura” se desenvolve gradativamente, como resultado dos infortúnios pelos quais ele passa) quanto no estilo da narrativa. Diferente de Sob a Redoma ou Novembro de 63, por exemplo, romances cujo texto flui de maneira mais agradável, A Autoestrada apresenta uma narrativa mais arrastada, deliberadamente “pesada”, numa concepção estilística que provavelmente faz alusão ao sofrimento e angustia pelos quais Bart precisa passar no decorrer de sua história. Nesse aspecto a trama funciona mais ou menos como aqueles filmes de suspense onde não há sustos, mas a trilha sonora carregada deixa o espectador com uma sensação quase que constante de inquietação que ele parece, num primeiro momento, não saber de onde vem. Esse tipo de abordagem se justifica, (além, é claro, pelo simples fato de ser um Bachman Book) por alguns outros fatores: Segundo Steve a concepção de “A Autoestrada” exigiu um pouco mais de esforço, já que ele estava empenhado em “escrever um livro direito”. Além disso, a morte de sua mãe, só um ano antes, teve impacto direto na construção do romance, já que o próprio Steve admitira que após o falecimento dela ele passou um tempo angustiado e abalado, procurando sentido em tudo aquilo e boa parte dessa busca por sentido reflete na forma como Barton lida com seu infeliz passado.

 Apesar de conter um narrador onisciente, a história basicamente não tem outros pontos de vista, além do da personagem principal e é dividida em capítulos que recebem as datas dos fatos que vão acontecendo, na medida em que as datas das demolições da lavanderia e da casa de Bart se aproximam. No final do romance ainda há um posfácio escrito por Steve em 1996 com o título de “A importância de ser Bachman”, que na verdade funciona como uma segunda introdução aos chamados “Livros de Bachman” que ele achou necessária porque, segundo o próprio Steve, “a primeira não ficou muito boa”. No texto, entre outras coisas, ele discorre um pouco mais sobre suas motivações para adotar um pseudônimo, sobre o lançamento dos livros gêmeos “Desespero” e “Os Justiceiros” e sobre a progressão da “persona” de Bachman que ocorria na medida em que ele escrevia seus livros, antes de morrer de “câncer do pseudônimo” em 1985.

CURIOSIDADES

  • O livro foi publicado como uma história independente na coletânea rara “Os Livros de Bachman” e posteriormente relançado como livro único, já que a coletânea original onde ele foi publicado está proibida de ser reimpressa.
  • Em “Desespero” quando a personagem Audrey Wyler conta como conseguiu sua arma ela o faz num diálogo muito parecido com o de Bart em “A Autoestrada”.
  • Em sua segunda introdução aos Livros de Bachman King descreveu “A Autoestrada” como sendo o pior dos quatro que compunham a coletânea, pois havia nele uma tentativa infrutífera de explicar a sensação de angustia pela qual ele próprio passou quando perdeu sua mãe, um ano antes da publicação do livro. Posteriormente, na introdução para a segunda edição dos Livros de Bachman ele mudaria de idéia e diria que A Autoestrada tinha se tornado seu favorito entre os livros publicados com o nome de Bachman.
  • Em um trecho do livro é mencionado que a passadeira na lavanderia onde Bart trabalha é apelidada de “The Mangler” (a estraçalhadora), por causa do que aconteceria com você se você fosse pego nela. O termo é familiar para aqueles que já leram o conto “A máquina de passar roupa” (The Mangler, 1972) do livro Sombras da Noite (Night Shift, 1978).

CAPAS

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2 respostas

  1. excelente texto, explica muito bem como se passa a leitura desse livro, de longe não é meu preferido, mas é o livro que mais me causou uma espécie de angústia, é uma leitura que explora o nosso interior, muito bom!

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