Achados e Perdidos

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Título Original: Finders Keepers
Título Traduzido: Achados e Perdidos
Ano de Publicação: 2015
Data de publicação: 02/06/2015
Ano de Publicação no Brasil: 2016
Adaptação:
Personagens Principais: Bill Hodges, John Rothstein, Morris Bellamy, Peter Saubers
Páginas: 352
Disponível no Brasil pelas Editoras: Sumas de Letras (2016)

SINOPSE/CRÍTICA

O ano é 1978 e John Rothstein é um escritor de renome que vive isolado em sua propriedade, longe dos holofotes, da mídia e de qualquer publicação de seu material há pelo menos dez anos, embora tenha continuado, durante este tempo todo, escrevendo. Certo dia sua casa é invadida por bandidos, que descobrem onde está seu cofre e além de roubarem todo o dinheiro que Rothstein guardava lá, também levam as centenas de cadernos que continham originais manuscritos por ele, no decorrer dos anos em que não publicou mais nada, incluindo duas continuações para a sua mais aclamara série, “O corredor”. Morris Bellamy, o homem que arquitetou e levou adiante o roubo à casa de Rothstein, não demora a ser preso por uma tentativa de estupro da qual ele não se lembra, porque estava embriagado, antes mesmo de ter a oportunidade de vender os manuscritos de Rothstein. Ele é condenado à prisão perpetua e os livros, que ele havia escondido em um baú, enterrado embaixo de uma árvore, ficam perdidos. Vários anos se passam, até que um garoto chamado Peter Saubers, que havia se mudado com a sua família para a antiga casa de Morris, acaba encontrando o Baú junto com o dinheiro e os manuscritos de Rothstein. Paralelo a isso, Morris consegue sua condicional e vai atrás do baú com os livros, não medindo consequências para conseguir de volta aquilo que ele acreditava ser dele por direito.

É quase um consenso, entre os Leitores Fiéis de Stephen King (e até mesmo entre os esporádicos), que a Trilogia Hodges se apresenta da seguinte forma; O primeiro livro “Mr. Mercedes” é muito bom, o segundo livro, “Achados e Perdidos”, é mediano e o terceiro livro, “O Ultimo Turno”, é ótimo! Durante um bom tempo, antes de poder ter o exemplar em mãos, eu acreditei neste discurso. Ainda bem que, com relação a ele, eu me decepcionei. Diferente do que muitos leitores afirmam, “Achados e Perdidos” não é um livro apenas mediano, na verdade é um livro muito bom. Além dos diversos elementos intrínsecos a narrativa de Steve (as metáforas, as cenas cruéis, a inevitabilidade palpável dos fatos – sem firulas literárias, verdadeira e cruel, assim como é, muitas vezes, a vida real), estão presentes algumas experimentações literárias bem interessantes, que nas mãos de um escritor menos experiente talvez não funcionassem tão bem como funcionam com o Sr. Steve. Dentre elas, talvez a que mais se destaca é a capacidade que ele tem de amarrar tão bem os flashbacks.

A história – em especial, a primeira parte dela – se passa em dois anos, basicamente; 1978 e 2015. Ao mesmo passo em que conhecemos os fatos que levaram à prisão de Morris, e a subsequente “perda” dos cadernos, acompanhamos o seu envelhecimento e a vida atrás das grades, também nos deparamos com o que está acontecendo atualmente e como esses fatos passados influenciam agora a vida do jovem Pete e como essas duas linhas temporais tão distantes vão se chocar e provocar uma terceira, que envolverá Pete, Morris e ninguém mais ninguém menos do que o Detetive Bill Hodges, velho conhecido nosso do primeiro volume da série. Eis aí, infelizmente, um dos pontos fracos da história.

Se em Mr. Mercedes Hodges era o protagonista, envolvido diretamente com a história, aqui ele assume o papel de coadjuvante, aparecendo bem depois de um longo (mas igualmente interessante) capítulo de introdução de mais de cem páginas, e talvez esta tenha sido a principal reclamação dos que esperavam mais um livro do detetive aposentado Bill Hodges. O fato é que mesmo após surgirem na história, o trio Hodges, Holly e Jerome, pouco se destaca, não acrescentando muito à narrativa, deixando boa parte dos acontecimentos interessantes e relevantes por parte de Pete e Morris. A impressão que ficou é que se eles fossem retirados da história, ela provavelmente terminaria da mesma forma e que Steve os usou apenas para justificar o título como o segundo da trilogia. Mas, se isso é um ponto negativo, também acarreta em um positivo; Achados e Perdidos pode ser lido tranquilamente, sem que você tenha lido o primeiro volume da trilogia Hodges. Em trilogias estamos acostumados com histórias continuadas, com início, meio e fim. Isso não acontece com “Mr. Mercedes” e “Achados e Perdidos”. São duas histórias completamente distintas (embora os personagens possuam uma ligação com os acontecimentos passados em “Mr. Mercedes”, mas que não entrarei em detalhes, para evitar spoilers), que podem ser lidas separadamente, sem problema para a compreensão. É claro que ler “Mr. Mercedes” primeiro vai expandir um pouco sua compreensão sobre o livro, mas não lê-lo não vai atrapalhar. Independente de qualquer coisa, estes são detalhes que não chegam nem perto de tirar a graça do livro, a menos que você tenha se tornado um fã ardoroso de Hodges e que se incomode com o fato dele não ter relevância quase nenhuma para a história.

Quem gostou de “Misery: Louca Obsessão”, provavelmente vai se identificar bastante o vilão deste livro. Morris Bellamy é quase que uma versão masculina de Anne Wilkes. Ambos possuem verdadeiro amor pela literatura (com o agravante de que Morris é um pretenso escritor fracassado), mas há neles uma diferença pequena, porém significante. Enquanto Anne faz a típica leitora compulsiva, que nutre uma obsessão nada saudável pela figura do escritor dos seus livros prediletos, Morris enxerga nos próprios livros e personagens dos livros de Rothstein toda essa idealização não concretizada do que ele gostaria que fosse sua própria vida. Ele não é apaixonado pela figura do Escritor Rothstein, tal qual Anne era, até certo ponto, por Paul Sheldon (embora também fosse completamente fissurada em Misery, percebe-se nitidamente que há um respeito e carinho maior dela por parte do Paul escritor, ainda que tenha sido capaz de fazer tudo o que ela fez). Na verdade, por mais que o considerasse um gênio literário (ainda que um gênio em decadência), Morris abominava a figura de Rothstein, principalmente porque ele tinha tudo o que Morris sempre sonhou em ter, mas ignorava isso e se isolava, sem publicar mais nenhuma linha. Morris simplesmente não conseguia assimilar a ideia de que alguém com um talento tão grande não o usava.

Achados e Perdidos é, ainda, uma ode à literatura e a sua capacidade de transformar vidas, seja para melhor ou para pior. Isso fica claro quando percebemos que a força motivadora das ações, tanto de Pete quanto de Morris, não é, em primeira instância, a ganância pelo dinheiro escondido no baú, por exemplo (embora ele tenha ajudado Pete a sair de uma enrascada e metido ele em outra), mas sim o amor que ambos nutriam pela literatura, em especial pelos livros de Rothstein. Morris passou todos os anos em que esteve na cadeia muito provavelmente imaginando como seria o momento em que ele finalmente colocaria as mãos nos “cadernos perdidos” de Rothstein e saberia como terminaria a história de Jimmy Gold e se ele encontraria ou não sua redenção. Com Pete o mesmo acontece, porém de maneira muito menos drástica, já que até então ele era apenas um jovem normal do ensino médio apaixonado por literatura, que descobriu um baú com os manuscritos perdidos de um dos seus autores favoritos e por isso se meteu numa enrascada.

E se você gosta de finais impactantes, prepare-se, porque o de “Achados e Perdidos” deixa um ótimo gancho para a sua continuação, “O Ultimo Turno”, livro sobre o qual já falamos anteriormente aqui.

“Achados e Perdidos” foi publicado no Brasil este ano pela Suma de Letras, com tradução de Regiane Winarski (acompanhe a entrevista que fizemos com ela aqui) e já está à venda nas livrarias de todo o brasil. Você também pode encontrá-lo na Coisas Necessárias, nossa lojinha oficial, ou diretamente pela amazon, clicando aqui.

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