Livro da Semana: Joyland

Título Original: Joyland
Título Traduzido: Joyland
Ano de Publicação: 2013
Ano de Publicação no Brasil: 2015
Adaptação: —–
Páginas: 239
Tradução: Regiane Winarski
Disponível no Brasil pelas Editoras: Suma de Letras (2015)

Joyland foi originalmente a segunda novela de Stephen King publicada nos EUA pelo selo Hard Case Crime, especialista em novelas policiais (o primeiro deles foi “The Colorado Kid”, ainda inédito no Brasil) em 2013 e que agora chega no Brasil pelo Selo Suma de Letras, com a mesma capa que foi publicado lá fora (mais um ponto positivo para a Suma). O romance se passa no parque de diversões “Joyland”, na Carolina do Norte, no longínquo ano de 1973. Devin Jones é um jovem estudante da Universidade de New Hampshire, que conseguiu um emprego temporário no parque, durante as férias, para ajudar a pagar a faculdade. Lá, após uma breve leitura de mãos com a vidente do parque, Rosalind “Rozzie” Gold, Devin descobre que duas crianças em breve marcarão para sempre sua história de vida; uma é uma menina com um chapéu vermelho e a outra é um garoto com um cachorro. Em meio a isso, Devin se depara ainda com a estranha história de um fantasma de uma garota que assombra o trem fantasma do parque e que, segundo a história, foi morta ali quatro anos antes por uma assassino em série que nunca foi capturado. Com a ajuda de seus novos amigos do parque, Devin descobrirá que há muito mais do que se imagina por trás do crime esquecido de Joyland.

– Este é um mundo muito conturbado, cheio de guerras, crueldade e tragédias sem sentido. Cada ser humano que o habita recebe sua porção de infelicidade e noites insones. Aqueles de vocês que ainda não passaram por isso passarão um dia. Considerando esses fatos tristes, porém inegáveis, da condição humana, vocês receberam um presente valiosíssimo este verão: estão aqui para vender diversão.

Apesar de ser um romance devidamente datado (que se passa em 1973), diferente de novembro de 63, aqui o contexto histórico não é tão importante. Não há muitos fatos que situam a historia especificamente nesta data, a não ser o testemunho do próprio narrador e a caracterização de Joyland, que de tão especifica beira a nostalgia, com seus brinquedos temáticos de época, suas “Garotas de Hollywood”, com vestidos curtos, agarradas à máquinas fotográficas pré-históricas e as típicas cenas de parques antigos, com barraquinhas de tiro ao alvo, rodas gigantes com tinta fresca escapando pelas beiradas a cada giro e crianças, muitas crianças comprando diversão numa época em que os grandes conglomerados da alegria (salve Disney!) ainda não dominavam tudo. King conseguiu capturar muito bem a atmosfera de um parque de diversões setentista, os detalhes do cotidiano e o ritmo de vida das pessoas que trabalhavam em Joyland. Talvez seja esta sensação de nostalgia, aliada ao carisma do personagem principal (Daven Jones tem seus dilemas amorosos, decepções e dificuldades financeiras, como qualquer adulto recém saído da adolescência, mas ainda é um jovem divertido e, em certo nível, cheio de vida) e aos capítulos curtos e sem descrições enfadonhas ou exageradas, que gera uma agradável sensação de empatia que permeia todo o livro, fazendo com que não queiramos largar a leitura até terminá-lo.

A primeira vez foi constrangedora. A segunda vez foi boa. A terceira… Cara, a terceira foi incrível.

Apesar de se caracterizar por um relato mais pessoal e intimista, como a maioria das novelas de Stephen King narradas em primeira pessoa, (vide “o corpo” e “1922”, por exemplo), Joyland não é um melodrama triste e pessimista, como Blaze (um Bachman inédito, sobre o qual já falamos aqui) ou as historias igualmente fascinantes de “escuridão total sem estrelas” (confira nossa resenha aqui). Nem mesmo na segunda parte do livro, quando a história divertida e envolvente dá lugar ao drama mais decadente da garota morta no trem fantasma, isso acontece. Muito pelo contrário. É uma história divertida e despretensiosa, que com poucos detalhes destrinchados nas suas pouco mais de 200 páginas prende o leitor do início ao fim. E se, pelo fato de ser um Stephen King, você espera uma história repleta de mortes, sangue, monstros saindo de dentro de um bueiro ou coisas do tipo, pode tirar o seu cavalinho da chuva. Por mais que haja elementos intrínsecos de terror/suspense (Linda Gray e tom estão ai para não me deixarem mentir) Joyland também não é uma historia essencialmente de terror. É claro que ele está lá, presente, como uma marca registrada da qual Steve parece simplesmente não conseguir se desvencilhar, mas ele não é o mote principal da trama e eu diria que ele ainda aparece de maneira bastante sutil, principalmente se comparado a outros romances semelhantes do autor.

Essas são coisas que aconteceram há muito tempo, em um ano mágico em que o petróleo era vendido por onze dólares o barril. O ano em que meu coração foi partido.

Em um nível menos superficial, Joyland está mais para um conto sobre nostalgia, uma historia sobre relembrar os erros do passado e, principalmente, as primeiras decepções amorosas. Um conto sobre uma época de busca de identidade pela qual a grande maioria dos jovens (senão todos) passa, onde cada minúscula escolha parece padecer de uma importância imensa e ter o peso de mudar nossas vidas, quem sabe, para sempre. Indo um pouco mais longe, eu diria que trata-se ainda de uma verdadeira ode a amizade, seja na figura dos amigos Tom e Erin, do velho Frank ou (e principalmente) na do garotinho Mike, que você não tardará a perceber que apesar de entrar quase que tardiamente na historia, será um dos personagens mais importantes dela. E, claro, há o final; denso (triste, diriam alguns, mas creio que é tudo uma questão de ponto de vista), mas realista, de uma sinceridade quase palpável para com os leitores. Steve não é muito conhecido por escrever ótimos finais (afinal, o que vale é a jornada e não o destino), mas eu diria que o de Joyland provavelmente agradará os leitores brasileiros. Bom… Pelo menos a mim agradou.

Joyland já pode ser encontrado nas principais livrarias do Brasil. Para os fãs que gostam de uma boa promoção (e quem não gosta!?) na Saraiva o livro está saindo por R$20,00. Clique aqui e aproveite!

Curiosidades

  • A novela foi mencionada pela primeira vez por Stephen King em uma entrevista concedida ao romancista/quadrinista/roteirista (e tantos outros “istas”) Neil Gaiman, para o The Sunday Times em Abril de 2008 (confira a entrevista completa aqui), mas só foi lançada oficialmente em Junho de 2013.
  • King revelou que teve a idéia para o romance de uma imagem constante, que o “atormentou” por vinte anos, de um garotinho em uma cadeira de rodas empinando uma “pipa de Jesus”.
  • Em Junho de 2013 uma edição limitada de capa dura também foi lançada pela Titan Books nos EUA.  Publicada em três diferentes versões, a primeira tinha uma tiragem de 1.500 cópias, a segunda, uma edição numerada e limitada, assinada pelo autor, teve a tiragem de 724 cópias. A terceira edição foi uma edição “letrada” limitadíssima (26 cópias), também assinada pelo autor.
  • Foi lançado inicialmente apenas em paperback (brochura), como forma de incentivo ao mercado editorial de livros físicos. Apenas depois teve seu lançamento em audiobook e no formato digital autorizado.
  • No livro o tablóide Inside View é mencionado. O mesmo tablóide aparece no conto “O piloto da noite” e no livro “A Zona Morta”, entre outros.
  • O garotinho Mike Ross (e aqui vem um spoiler) é muito provavelmente um Iluminado, assim como Danny Torrance.

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