Livro da Semana: “Mr. Mercedes”

Título Original: Mr. Mercedes
Título Traduzido: Mr. Mercedes
Ano de Publicação: 2014
Ano de Publicação no Brasil: 2016
Personagens Principais: Brady Hartsfield,  Bill Hodges, Jerome Robinson
Adaptação:
Páginas: 400
Tradução: Regiane Winarski
Disponível no Brasil pelas Editoras: Suma de Letras (2016)

SINOPSE

Uma alucinante corrida contra o tempo, em que três heróis improváveis tentam impedir um assassino de acabar com milhares de vidas

Ainda é madrugada e, em uma falida cidade do Meio-Oeste, centenas de pessoas fazem fila em uma feira de empregos, desesperadas para conseguir trabalho. De repente, um único carro surge, avançando para a multidão. O Mercedes atropela vários inocentes, antes de recuar e fazer outra investida. Oito pessoas são mortas e várias ficam feridas. O assassino escapa.

Meses depois, o detetive Bill Hodges ainda é atormentado pelo fracasso na resolução do caso, e passa os dias em frente à TV, contemplando a ideia de se matar. Ao receber uma carta de alguém que se autodenomina o Assassino do Mercedes, Hodges desperta da aposentadoria deprimida, decidido a encontrar o culpado.

Mr. Mercedes narra uma guerra entre o bem e o mal, e o mergulho de Stephen King na mente obsessiva e psicótica desse assassino é tão arrepiante quanto inesquecível.

RESENHA

1995 foi, para mim, em muitos aspectos, um ano histórico. Foi o ano das Nações Unidas para a Tolerância, pela ONU. O ano em que Fernando Henrique tomou posse e, (mesmo que minha sútil inclinação esquerdista relute em assumir) começou a colocar o Brasil nos eixos, com o estabelecimento cada vez mais concreto do real como moeda nacional. O ano do colapso da Barings Bank, da retirada das Forças de manutenção da paz das Nações Unidas da Somália, do terremoto de Kobe (7,3 na escala Richter) que matou mais de 6 mil pessoas, da reeleição de Carlos Menem na Argentina… Apesar disso, a lembrança mais viva que ainda tenho sobre o agora longínquo ano de 1995 não é a de Seamus Heaney anunciado como Nobel de Literatura, nem do Ebola emergindo no Zaire, nem mesmo aquele bispo que apareceu chutando a imagem de Nossa Senhora Aparecida na tv aberta. A memória da qual mais me recordo tem nome. Chama-se “Stephen King”.

Lembro com certa nostalgia do nome aparecendo nos créditos de uma minissérie que estava sendo exibida na tv, chamada “Fenda no Tempo”. Meu primeiro contato. Hoje, depois de muitas adaptações assistidas e livros lidos, sei que foi baseada no conto “The Langoliers” da coletânea “Depois da Meia Noite”. Na época eu não sabia nada disso, mas não foi o suficiente para minar meu interesse instantâneo por tudo que carregasse o nome dele. Já se passaram mais de vinte anos e o interesse só tem aumentado mais a cada livro lançado (Deus deve ter reservado um céu apenas para escritores prolixos, sem dúvida). Nesses vinte anos, uma pergunta por parte de amigos mais próximos ou apenas de curiosos – que nunca leram Stephen King, mas que gostariam de fazê-lo -, acabou se tornando muito comum: “Por qual livro devo começar?”

“Comece por qualquer um!” seria minha resposta mais honesta. Talvez ela pareça grosseira, num primeiro momento acalorado e de pouca reflexão, mas a verdade é que não consigo formular outra. Não pela incapacidade retórica assumida (apesar da formação, ainda estou longe de me considerar eficiente com as palavras), mas pelo simples fato de que é a verdade. Apesar de possuir seu estilo clássico, cada livro lido de Stephen King é uma experiência única. Seus mais de cinquenta best sellers transformaram o homem em uma verdadeira máquina literária, que apesar de ser mais reconhecido pelos livros de terror e suspense, mostrou-se capaz de passear pelos mais diversos gêneros e subgêneros literários com uma desenvoltura de fazer inveja a qualquer propenso escritor, ou mesmo a escritores de sucesso. A mais recente prova desse “talento” se chama “Mr. Mercedes”, o primeiro livro de uma trilogia composta ainda por “Finders Keepers” (que no Brasil será publicado com o título “Achados e Perdidos”) e o mais recente “End of Watch”, com previsão de lançamento para Julho deste ano, ainda sem título nacional.

Resumidamente falando, Mr. Mercedes conta a história de Bill Hodges, um policial aposentado que se vê obrigado a voltar à ativa para capturar um assassino conhecido pela alcunha que dá título ao livro. Digo “Resumidamente” porque seria injusto revelar mais da trama do que isso. O que posso afirmar, com pleno conhecimento de causa, é que Mr. Mercedes é um romance policial por excelência. A retórica consagrada, a presença da figura do herói (distorcida, até certo ponto, pelas peculiaridades autorais do personagem criado pelo Sr. Steve)… Todos os aspectos folhetinescos inerentes ao gênero estão lá, permeados pelo talento de quem vive a mais de cinquenta anos contando histórias. De todos, entretanto, o que mais se destaca talvez seja a já clássica oposição mítica, a presença muito bem definida do bem (retratado, como foi dito anteriormente, na imagem um pouco distorcida de um herói na figura do detetive Bill Hodges) e do mal (Brady Hartfield). A diferença é que aqui o embate entre o detetive e o criminoso é travado tanto no âmbito físico quanto no psicológico, já que a narração do livro oscila entre os pontos de vista de ambos. Conhecemos tanto da personalidade e motivação de Hodges, quanto da mente doentia e igualmente motivada de Hartfield (não o suficiente para causar empatia, mas ainda assim o bastante para compreendê-lo). A graça não está, por fim, na investigação em si – afinal, já sabemos quem é o assassino do Mercedes desde o início do romance – mas na briga de gato e rato e no modo extremamente inteligente (para não dizer frio) como Hartfield parece manipular o destino daqueles que “escolhe” matar. Não é um Stephen King que muitos considerariam como “clássico”, com cenas de terror de tirar o fôlego ou carnificina manchando as páginas de sangue (ok, só um pouco!), mas ainda assim é o Steve que conhecemos, o mesmo que nos acostumamos a ver colocar pessoas comuns em situações extraordinárias, das quais elas podem sair vivas, ou não. E um Steve com o qual o leitor, seja ele novato ou não, provavelmente vai se familiarizar.

Mr. Mercedes
Capa da versão brasileira de “Mr. Mercedes”, mesma utilizada na versão original do livro.

No aspecto técnico, diversos pontos positivos para a Suma de Letras, que continua fazendo um ótimo trabalho com os livros do autor no Brasil. A capa utilizada foi a mesma da versão original e até o título foi mantido (nada de “Sr. Mercedes”, como muitos acreditavam que pudesse acontecer). Além disso, a editora revelou que o hiato entre o primeiro e o terceiro livro da série no Brasil será bem breve (seis meses) e não esperaremos muito para saber como termina a história de Hodges. Ouso arriscar que provavelmente teremos um box com a trilogia sendo vendido tão logo os três livros sejam publicados.

Mr. Mercedes foi oficialmente lançado no último dia 11 e já se encontra à venda na Saraiva, FNAC, Amazon e demais livrarias, por valores que variam entre 35 e 44 reais. O livro tem cerca de 400 páginas e acabamento em brochura, com tradução de Regiane Winarski.

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8 respostas

  1. O meu chegou ontem. Nos aspectos físicos, eu adorei o livro. Ainda não comecei a leitura, pois estou terminando outro livro. Mas também nem pretendo começar ler agora, já que a triologia toda sera lançada ainda esse ano. Então eu irei esperar, assim não fico ansioso para ler as continuações.

    BTW: Adorei a resenha. <3

  2. Cara, gostei muito da resenha, ótimo texto!
    Ainda não comprei, tenho uma boa fila de King ainda na frente desse. Mas logo logo chego nele!rs
    Abraço

  3. Olá! Também sou devorador dos livros de King! De qual triologia é essas que voces falam, tal como citou nossa colega Ana Paula no penúltimo comentário?? Seria Mr. Mercedez, Achados e Perdidos e qual é o outro? Grato

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