Off: Dica literária da semana: “O Devorador” de Lorenza Ghinelli

Título Original: Il Divoratore
Título no Brasil: O Devorador
Data de Publicação: 07/02/2012
Páginas: 197 (Edição da Suma de Letras)
Data de Publicação na Itália: Janeiro de 2011
Personagens: Filippo, Francesco, Luca, Dario, Pietro, Denny, Alice
Disponível no Brasil: Editora Suma de Letras (2012)

Sinopse/Crítica

O ano é 1986. Denny Possenti tem apenas 7 anos de idade mas uma infância que nenhuma criança provavelmente gostaria de ter. Seu pai é um alcoólatra inveterado, do qual Denny não se orgulha nem um pouco. Sua mãe, apesar de no fundo ser uma boa pessoa, sofre com problemas relacionados a sua dependência química. Além disso, Denny é constantemente mal tratado pelos colegas de classe que o julgam como um idiota. Sua única esperança é se apegar a seu amigo “imaginário”, um velho mal trapilho que se autodenomina “O Homem dos Sonhos”.

O ano é 2006. Uma onda de desaparecimento de garotos, com as mesmas características (os únicos resquícios que sobram deles são suas roupas perfeitamente dobradas, como se eles tivessem simplesmente sumido do nada) assusta a Itália. Pietro é um jovem autista de 14 anos e única testemunha viva do desaparecimento de um dos garotos, seu irmão, Dario. Entretanto, Pietro vive em seu mundinho particular e se comunica apenas através de desenhos. Devido a sua “limitação”, a única pessoa que acredita nele e no que ele viu é sua educadora profissional Alice, que possui uma estreita ligação com os fatos ocorridos vinte anos antes com o jovem Denny. Alice descobre, da pior forma possível, que um mal adormecido há anos está de volta, sedendo por novas vítimas.

“Como Abdul Mustafà, ele não chegou perto. Mas, diferentemente do caso de Abdul Mustafà, ninguém ousaria pensar que um velho pudesse ser responsável por tamanha barbaridade. Como se a velhice lavasse todos os impulsos humanos.” (O Devorador – Lorenza Ghinelli)

“O Devorador” é um daqueles livros que você se pega lendo, displicentemente, sem maiores expectativas, mas quando menos se dá conta já está terminando, por dois principais motivos. O primeiro deles é que a leitura do romance é bem ágil (a autora abusa dos parágrafos breves e pouco explicativos, mas muito bem escritos), e em nenhum momento deixa a desejar. A trama é bem entrelaçada, com início, meio e fim bem concisos (a descrição e as viradas rápidas da ação podem assustar ou confundir os leitores pouco acostumados com o estilo da autora, no inicio, mas logo se pega o jeito) e apesar de não se prender muito a descrições, não há aquela sensação de superficialidade deixada em alguns romances de autores relativamente novos. Com exceção da trupe de amigos iniciais, as primeiras vítimas do “Devorador”, que poderiam ter sido melhor explorados (apesar disso, tal deficit é perfeitamente compreensível, visto que o foco do romance não estava nas vitimas, mas nos sobreviventes), os personagens principais possuem densidade psicológica suficiente para sustentar a trama, principalmente Denny e os conflitos pessoais que envolvem os problemas dos seus pais com drogas e bebidas. O vilão “Devorador”, por sua vez, não é apenas um louco homicida que dá cabo de criancinhas. Trata-se de uma entidade sobrenatural misteriosa que, ao que tudo indica, é mais antiga e poderosa do que imaginamos (e isso também poderia ser explorado em uma suposta continuação do romance, já que a autora não entra em detalhes sobre o “passado” do velho macabro de bengala).

“Quem é ele?… É o mais potente… come olhos de toda gente… Ele vive dentro dos sonhos, ele é o Homem… o Homem dos Sonhos…” (O Devorador – Lorenza Ghinelli)

O outro ponto do qual falei no inicio da resenha é o que considero como sendo um dos poucos pontos fracos que encontrei no livro: Ele é muito curto (ou será que sou eu que sou ansioso demais? rs). Quando você está se acostumando, se apegando a alguns personagens e odiando outros, o livro chega ao fim com um desfecho que, apesar de rápido, convence e preenche perfeitamente bem todas as lacunas, ao mesmo passo em que deixa em aberto possibilidades para uma provável continuação. Em resumo, “O Devorador” é um prato cheio para fãs do bom e velho terror/suspense.  Um dos poucos livros que com certeza irei reler assim que tiver a oportunidade.

A Editora Suma de Letras, responsável pela publicação de “O Devorador” no Brasil, publicou em seu site oficial o primeiro capítulo de livro. Quem quiser pode conferir, clicando aqui.

Sobre a autora: Lorenza Ghinelli nasceu em Cesena, Itátia, em 1981. Obteve mestrado em técnicas narrativas na Escola Holden em Turim, em 2003. Desde 2009 colabora com a Tadue, uma produtora Italiana de TV e cinema especializada em dramas. Atualmente divide seu tempo entre as cidades de Roma e Rimini. Seu romance de estreia “O Devorador” teve os direitos internacionais leiloados na feira do livro em Frankfurt para sete países, mesmo antes de ser publicado. Em janeiro de 2011 foi originalmente publicado na Itália. Seu segundo romance, “A Culpa” foi finalista do Prêmio Strega de 2012.

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