Personagem da semana: Randall Flagg

Randall Flagg é um dos maiores vilões criados por Stephen King. Ele aparece em cerca de sete novelas, às vezes como antagonista (O que acontece em “A Dança da Morte” e “Olhos de Dragão”, por exemplo) e às vezes apenas como uma breve menção. O que talvez possa confundir alguns leitores é que ele frequentemente aparece com nomes diferentes, sendo que a maioria deles feitos com as abreviações de suas iniciais, R e F. É claro que há exceções, como em “A Torre Negra”, onde ele aparece com o nome de Walter O´Dim. Flagg é descrito como “Um feiticeiro talentoso, um servo dedicado do Lado Negro Exterior” com habilidades sobrenaturais que incluem necromancia, profecia, além de uma perspicaz influência predatória sobre o comportamento animal e humano. Seu objetivo parece ser simplesmente derrubar civilizações, espalhando o caos e semeando conflitos e discórdia.

A primeira aparição de Flagg aconteceu no romance “The Stand” (Dança da Morte), onde ele aparece como uma figura demoníaca que causa estragos após um vírus dizimar a maioria da população da terra. Sua segunda aparição acontece em “Olhos de Dragão”, onde ele surge como um feiticeiro malvado que tenta mergulhar o reino de Delain no caos. Além desses dois livros, Flagg também aparece várias vezes no decorrer dos sete livros que compõem a saga épica “A Torre Negra”, sendo um dos principais antagonistas dela, tentando impedir o então já velho Pistoleiro Roland Deschain de chegar em seu objetivo primordial, A Torre Negra (o eixo de todo tempo-espaço do universo) para que ele possa consertar o estrago que dizimou o mundo quando este “seguiu adiante”.

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Randall Flagg na minissérie “The Stand” interpretado pelo ator Jamey Sheridan

Em “Hearts in Atlantis” (Corações na Atlântida, em tradução livre), livro ainda inédito no Brasil, Raymond Fiegler é identificado perto do fim do romance como líder de um ativista do grupo quando ele impede Carol Gerber de recuperar uma bomba que não explodiu em um campus universitário. King não deixa claro que Fiegler é Flagg, porém em seu “The Complete Stephen King Universe”, os autores Christopher Golden e Hank Wagner levantam esta possibilidade ao sugerirem a capacidade de Fiegler de se fazer “invisível” e de manipular seus colegas ativistas, além das iniciais formarem o mesmo nome de Flagg.

Além de uma importante participação no volume quatro da Torre Negra, Mago e Vidro, Flagg também aparece em um rápido flasback no segundo livro da série, A Escolha dos três, quando Roland se lembra do encontro com Thomas e Dennis, onde eles dizem estar perseguindo um homem chamado Flagg, que era quase com certeza um demônio. Está implícito que os dois são personagens do livro Olhos de Dragão, sendo este um dos primeiros indícios de que a série se cruza em diversos momentos com outros romances de Stephen King. Flagg apareceria ainda em “O Vento Pela Fechadura”, oitavo (ou 4.5) livro da Torre Negra, no papel do cobrador de impostos do Baronato de Gilead. No livro não fica explicito que ele seja realmente Flagg e temos apenas sinais, como o uso das iniciais RF/MB, porém em uma entrevista dada ao autor Bev Vincent para seu livro “The Dark Tower Companion” Stephen King confirmou que ambos são a mesma pessoa. Especula-se ainda que Flagg provavelmente é o demônio que aparece no conto “As crianças do milharal” (que deu origem ao filme “Colheita Maldita”), chamado por elas de “Aquele que anda por trás das fileiras”.

Em “A Torre Negra” é revelado que Flagg nasceu em Delain, que seu nome verdadeiro era Walter Padick e quando criança ele foi dado ao dono de um moinho e sua esposa para ser levado para aprender o caminho dos homens, por seu pai, Merlim. Entediado, Padick botou fogo na própria casa e aos 13 anos saiu para se tornar um andarilho errante. Em suas andanças ele acabou sendo abusado sexualmente por um colega andarilho (Em “The Road to the Dark Tower” o autor Bev Vincent levanta a hipótese de que as ações posteriores de Flagg em Olhos de Dragão teriam sido uma forma de se vingar do abuso que sofrera quando criança). Isso, ao invés de enfraquecer, fortaleceu Padick, que se entregou de vez para seu destino e acabou por aprender diversas formas de mágia, quase chegando a alcançar a imortalidade durante o processo. Em um ponto ou outro de sua jornada, Flagg provavelmente se tornou aprendiz do pai e mago Merlim, responsável por forjar as chamadas “Esferas de Merlim”, já que em “Mago e Vidro” ele é visto em posse de uma delas, a Toranja de Merlim. Depois de séculos de discórdia e maldade, Flagg atrai a atenção do Rei Rubro (saiba mais sobre ele aqui) e acaba se tornando seu emissário.

A inspiração para o personagem

Stephen King primeiro citou Donald DeFreeze, sequestrador de Patty Hearts* como fonte de inspiração para o personagem. Segundo ele, ele lembrou-se do caso do sequestro da garota e começou a escrever uma descrição de DeFreeze. Ele lembrou-se que nas fotografias que apareceram do sequestro, DeFreeze apareceu apenas parcialmente, escondido com um grande chapéu. Como ele se parecia foi algo baseado em suposições feitas por pessoas que viram apenas uma parte dele. Isso acabou inspirando Steve na criação do personagem:

“Eu sentei lá por mais quinze minutos, mais ou menos, enquanto ouvia os Eagles em meu pequeno toca-fitas e, em seguida, eu escrevi: “Donald DeFreeze é um homem moreno – Eu não quis dizer que DeFreeze era negro; de repente ocorreu a mim que nas fotos tiradas durante o assalto ao banco em que Patty Hearst participou, que vocÊ mal podia ver o rosto de DeFreeze. Ele estava vestindo um chapéu de abas grandes, e como ele se parecia foi na maioria trabalho de adivinhação. Eu escrevi: “Um homem negro sem rosto”, e, em seguida olhei para cima e vi aquele macabro lema novamente: Uma vez em cada geração a praga cairá entre eles. E foi isso. Passei os próximos dois anos escrevendo um livro aparentemente interminável chamado “The Stand”

– Stephen King

Mais tarde ele atribuiu a construção da parte física do personagem à imagem que ele teve, certa vez, de um homem andando na estrada com botas de Cowboy, jeans e uma jaqueta que, segundo ele, tinha simplesmente saído do nada, quando ele estava na faculdade. O personagem inspirou Steve a escrever o poema “The Dark Man”, sobre um homem que anda nos trilhos e que se confessa assassino e estuprador. Para Steve, o que torna o personagem Flagg mais interessante é que ele sempre foi um vilão que está sempre “do lado de fora olhando para dentro”. Steve ainda afirmaria que o personagem tem sido uma presença constante desde que ele começou a escrever.

“Randall Flagg veio até mim quando escrevi um poema chamado The Dark Man quando eu estava na faculdade. Veio do nada, um cara com botas de cowboy que perambulava pelas estradas, pedindo carona pela noite, sempre com jeans e uma jaqueta de brim. Escrevi o poema em um restaurante da faculdade, mas o cara nunca saiu da minha cabeça.”

– Stephen King

Caracterização

Randal Flagg é a personificação do mal. Quando King criou o personagem ele o baseou em torno de tudo o que ele acreditava que poderia representar o mau. Para Steve o personagem é “Alguém que é muito carismático, rí muito e é extremamente atraente para ambos, homens e mulheres. Alguém que apela apenas para o pior lado de todos nós.” Essa ideia é reforçada em sua primeira aparição, quando ele surge no romance “Dança da Morte”. Flagg aparece como o completo oposto do que representa a personagem de Mãe Abigail (a personificação do bem) e isso é mais reforçado ainda quando o personagem Tom Cullen atribui a ele a capacidade de matar animais e causar câncer a vontade, referindo-se a ele como o demônio Legião. Já o personagem Glen Bateman refere-se a ele como uma grotesca entidade Lovecraftiana chamada Nyarlathotep. Segundo Steve, Flag deveria ser a representação de um mal gigantesco.

“Eu acho que o Diabo é, provavelmente, um cara muito engraçado. Flagg é como o arquétipo de tudo que eu sei sobre o verdadeiro mal… Ele é alguém que está vázio e precisa ser preenchido com o ódio de outras pessoas, medos e ressentimentos. Randall Flagg, Koresh, Jim Jones, Hitler – eles são todos basicamente o mesmo cara.”

– Stephen King

Apesar de tudo, a intenção de Steve não é de que Flagg represente Satanás, o anjo caído. No entanto, ele observa que não importa como você vê o personagem (já que ele aparece de diferentes formas, para diferentes indivíduos), a mensagem principal que deve ficar é: “Eu sei que todas as coisas que você quer e eu posso dar a você e tudo que você tem a fazer é me dar a sua alma “.

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Randall Flagg na HQ “The Stand” da Marvel Comics

Flagg e seus nomes

Como foi dito anteriormente, Flagg também é conhecido por diversos outros nomes, sendo que na maioria os nomes próprios ele usa as primeiras iniciais de seu “nome de mago”, R e F. Entre as diversas nomeações dadas por outros personagens e identidades que o próprio Flagg assumiu estão:

  • O Estranho Sem Idade
  • O Andarilho
  • O Homem Escuro
  • O Homem de Preto
  • O Homem Alto
  • O Adversário
  • Aquele que anda por detrás das fileiras
  • O Coveiro
  • Richard Fry – em Mountain City
  • Robert Franq – em Nova York
  • Ramsey Forrest – na Geórgia
  • Robert Freemont
  • Walter Padick
  • Richard Freemantle
  • Russell Faraday – “O círculo se fecha”
  • O Monstro
  • O Homem Sem Rosto

Em outros trabalhos ele ainda aparece com inúmeros outros nomes, entre eles:

  • Richard Fannin (Olhos de Dragão)
  • Raymond Feigler (Hearts in Atlantis)
  • Walter o’Dim (A Torre Negra)
  • Marten Broadcloak (A Torre Negra)
  • Walter Hodji (Dança da Morte)
  • Bill Hinch (Olhos de Dragão)

Inicialmente, na Torre Negra, é levantada a hipótese que de Flagg também seria John Farson, comandante das tropas inimigas dos Pistoleiros em “A Torre Negra” e um dos maiores partidários do Rei Rubro, porém no livro, apesar da hipótese ter sido levantada,  isso não fica claro. Além de não usar as costumeiras iniciais, o que reforça mais ainda a ideia de ambos não são a mesma pessoa é que em um trecho da série de hqs publicadas pela Marvel, ambos aparecem juntos em uma cena.

* Patricia Campbell Hearst (Patty Hearst), hoje conhecida como Patricia Hearst Shaw, é a neta do magnata das comunicações William Randolph Hearst e acabou se tornnando famosa em 1974 ao ser sequestrada, na época, por membros do Exército Simbionês de Libertação. Acabou por desenvolver a chamada Síndrome de Estocolmo (quando a vítima sente simpatia pelo algoz) e juntou-se aos sequestradores, adotando o nome de Tania, participando com eles de um assalto a banco, ao lado de Donald DeFreeze.

Fonte: WikipédiaStephen King Wiki e Projeto 19

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2 respostas

  1. Post excelente!

    Se eu não me engano tem uma rápida menção ao nome R. Flagg na abertura de Haven (série baseada no livro The Colorado Kid de Stephen King). Como não li o livro, não sei se ele é mencionado lá também ou se é apenas um easter egg.

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