No inicio de nossa era não existiam mundos nem universos, somente a magia fervilhante e bruta do Primal. Essa sopa fosforescente de criação cresceu como uma ameba grande, faminta e opalescente. Ela devorava o nada e no silencio murmurava e sussurrava.

    O primeiro a emergir das profundezas do Primal foi Gan, espírito da Torre Negra. Alto e de cor preto-acinzentada, ele abriu caminho até o céu, as janelas que aspiralavam ao redor do tubo que era seu corpo relampejando com uma luz azul elétrica. Do centro da restas de Gan despontava uma grande sacada ogival envidraçada de doze cores: carmesim, laranja, amarelo, rosa, azul-escuro, verde escuro, índigo, verde claro, azul celeste, violeta, marrom e cinza perolado. Embora a janela fosse linda, o painel circular em seu centro brilhava negro como o vazio do espaço todash.

    A medida que Gan se esticava cada vez mais alto, as águas do Primal se derramavam de seu umbigo. De sua magia pura ele teceu o mundo médio. Quando a torre cresceu em altura, o mundo médio se dividiu nos mundos múltiplos e paralelos. Gan colocou esses mundos unidos como contas de um colar, para circular ao redor do eixo de seu corpo e seu movimento criou o tempo, enquanto o tempo se acomodava em seu eixo, o sol e a lua se ergueram do Primal e construíram suas próprias estradas cruzando o céu. Em pouco tempo foram seguidos pelo velho astro e sua esposa, a estrela do sul. Mas enquanto os deuses assumiam seus lugares sobre o palco da terra outras criaturas, mais terríveis, eram criadas nas águas profundas do Primal.

    Os mais terríveis dos novos filhos do Primal eram monstruosos grandes. Alguns desses horrores tinham corpos de lulas, outros de centopéias gigantes, e outros ainda de grandes aranhas de duas presas. Todos tinham pinças com garras e bocas que se escacaravam repletas de dentes de tubarão e todas tinham fome. No entanto, enquanto os grandes espreitavam, tramavam e aumentavam em numero, o Primal começou a recuar. Alguns desses monstros morreram, mas outros deslizaram para os lugares do vácuo entre mundos e ficaram esperando.

    A medida que o Primal mágico recuou, muitos demônios menores ficaram perdidos nas margens dos múltiplos mundos. Alguns desses demônios morreram, mas outros se adaptaram e prosperaram. Entre os que sobreviveram havia seres que pareciam homens, mas não eram humanos. Uma dessas criaturas imprevisíveis e perigosas se chamava Merlim.

    Embora Merlim parecesse um mago de barba grisalha, ele era um Agente do Primal, uma criatura de magia em estado bruto. Assim como a força caótica que o fizera nascer, ele não se importava nem um pouco com a estabilidade ou ordem. Tudo o que queria era sua própria diversão, e o que mais o divertia era a destruição.

    Apresentando-se como um poderoso mago, Merlim ensinou ao povo do Mundo Médio a filosofia da magia e suas muitas aplicações praticas. Mostrou-lhes como construir portas entre mundos e túneis entre períodos de tempo. Sob sua tutela, eles construíram Dogans – Estações experimentais nas quais a tecnologia podia ser fundida a magia – e lá o povo antigo criou armas de aniquilação.

    Emergiu um império poderoso que se chamava simplesmente Imperium. Inchados de tanta auto-importância, os lideres do Imperium reclamaram a posse de todo o continuum espaço-temporal. Entretanto, para verdadeiramente controlar o tempo e as dimensões, eles precisavam conquistar o fulcro da existência. Logo, decidiram reconstruir a Torre Negra. Quando os arquitetos, eletricistas e pedreiros chegaram ao Mundo Médio, ficaram impressionados com o que viram. Não apenas a Torre mais imponente do que haviam imaginado, como o que haviam imaginado que fosse pedra era na verdade carne endurecida. Mesmo assim, eles queriam conquistar sua glória, e por isso se puseram a trabalhar. Mas tão logo a primeira bola de demolição atingiu o edifício imponente, o chão foi sacudido por um enorme tremor. Esse feixemoto aumentou de intensidade até que uma fissura imensa se abriu na terra e uma densa névoa amarela subiu de dentro dela. No entanto, não era nenhuma névoa comum. Ah, não. Ela havia vazado de dentro do vazio cheio de monstros entre os mundos, o lugar onde os Grandes esperavam. Todos aqueles que haviam viajado para a Torre buscando fama gritaram e fugiram, mas nenhum deles foi muito longe. Das profundezas da névoa todash, um dos Grandes arrotou.

    Por todo o mundo médio, luminas cheias de monstros se abriram como pústulas supuradas na pele da existência. O Imperium se fragmentou – cada facção culpando as outras por esse terrível erro de calculo – e em pouco tempo veio a guerra. Homens e mulheres fugiam apavorados, mas não havia mais lugar onde se esconder. Animais e plantas apanhados no fogo cruzado venenoso sofreram mutações, e o Mundo Médio foi reduzido a uma terra devastada radioativa. Como Merlim riu!

    Contudo, apensar do horror e da destruição, a Torre sobreviveu. Com suas fundações rachadas, pendendo para um lado, Gan deixou uma gota de sangue cair de sua carne. A gota escorreu para dentro da terra em sua base, e nesse ponto nasceu uma rosa. A flor era cor-de-rosa do lado de fora, vermelho vivo do lado de dentro, e seu centro era amarelo como o sol. Estendendo-se até o ar tóxico lá no alto, a rosa começou a cantar. Enquanto cantava, mais rosas brotaram, e a cada vez mais, até que a Torre agora cercada por um campo de brotos harmônicos, se endireitou. Por todo o Mundo Médio as nuvens de gás envenenado se abriram e as névoas cheias de monstros recuaram.

    Assim como a terra, a sociedade humana começou a se curar e a trama da cultura foi tecida novamente. Clãs em guerra fizeram tratados e uniram-se em baronatos. Lideres dos muitos baronatos se encontraram para confabular e, ao fazer isso, formaram uma confederação. Juntos, os homens da Confederação destruíram os desordeiros foras-da-lei que saqueavam e seqüestravam; caçaram os mutantes devoradores de homens escondidos no fundo da terra; chegaram até mesmo a construir represas fortes para conter as águas do Primal. Durante esse tempo de luta, um jovem guerreiro tornou-se conhecido por sua pericia em batalha e sua habilidade de inspirar confiança em seus seguidores. Seu nome era Arthur Eld. E, embora ele ainda usasse a espada de seus pais a cintura, também levava uma nova e temível arma capaz de derrotar todos os inimigos. Arthur chamava essa nova arma de revólver. Pela força do revólver, Arthur sobrepujou o mal no Mundo Médio e reclamou a terra para os homens, e não para a magia caótica.
    Todavia, nem todos estavam satisfeitos com essa restauração da ordem. No fundo da caverna nas margens do Primal, Merlim rangia os dentes. Em seu cristal de visão, ele viu quando a gloriosa cidade de Gilead foi reconstruída, pedra por pedra, para que Arthur, o novo alto rei do Mundo Total pudesse ali ser coroado.

    A paz era tediosa. Os homens que não matavam uns aos outros eram tediosos. A eternidade se estendia diante do mago imortal, longa e ampla. Merlim esperou inquieto até finalmente arreganhar os dentes num sorriso. Estava na hora de mais truques.

    Sobre o fogo imorredouro que queimava em sua caverna Merlin fiou as águas do Primal em vidro. Sussurrando palavras secretas, ele dividiu a magia branca em doze fios mágicos corrompidos. Por fim enrolou os fios e fez esferas com eles. Quando nada mais restava em suas mãos a não ser sombras, Merlim enrolou uma bola preta. Enquanto cada uma das esferas coloridas continha o segredo de uma diferente forma de magia – uma continha o dom da levitação, oura o segredo da telepatia, e outra ainda o poder de se mover entre mundos – , a preta continha somente o mal do vazio. Com a obra completa, Merlim passou as mãos sobre as Curvas do Arco-Iris e no coração de cada globo sedutor, colocou uma maldição. Embora a magia, por natureza, não fosse boa nem ruim, essas esferas só trariam tristeza aos seus usuários.

    Merlim caminhou até a beira do Primal e levantou os braços para o céu. Invocou seus irmãos e irmãs, os Grandes, e os convidou a fazer uma jornada com ele até o coração do novo rei humano. Ali, disfarçados de homens e mulheres, eles poderiam ter sua vingança contra aqueles que procuravam prende-los. Ali, poderiam se alimentar.

    Os grandes vieram. Embora surgissem de dentro do Primal em seus horríveis corpos insetoides, tornaram-se um desfile de cavaleiros e damas quando suas peles foram tocadas pelo ar. As mulheres usavam vestidos prateados que brilhavam como escamas de peixe; os homens, armaduras que, vistas pelo canto do olho, pareciam feitas de conchas de moluscos. Como armas, eles levavam tridentes envenenados e lanças enormes, em seus estandartes tremulava a Roda do Caos. O ultimo a emergir das águas mágicas foi o mais antigo de todos os Grandes. Quando seu corpo vermelho, peludo, de oito braços, saiu da água, sua forma tornou-se tão bonita quanto antes fora pavorosa. Em seu vestido de seda rubra, ela estendeu a mão e tomou a de Merlim.

    Na renovada cidade e Gilead, as festividades começaram com gosto. Vestido de branco, Arthur cavalgava pelas ruas em seu garanhão branco Llamrei. Moças o cobriam de flores, enquanto homens disparavam fogos de artifício e vendedoras vendiam bolos decorados com a nova coroa do Mundo Total, suas treze gemas coloridas – uma para cada listra da avarandada janela central da Torre Negra -, substituídas por bolas coloridas.

    Quando os trombeteiros sopraram suas trombetas, Arthur foi levado para a sala do trono sentou-se em seu trono e seu principal conselheiro, Sir Kay Deschain, segurou a coroa do Mundo Total sobre sua cabeça. O novo alto rei jurou sua vida e as vidas de seus descendentes para proteger a Torre e a coroa cheia de jóias foi colocada sobre seus cenho. Um grande clamor se fez ouvir no salão, seguido de gritos e danças nas Ruas. Os dias Ruins haviam acabado, e os bons e novos dias começavam. Todavia, nem bem os conselheiros do rei começaram a se parabenizar, tiveram de fazer uma pausa. O som da comemoração das ruas havia cessado e fora substituído pelo silencio. E, do silencio, surgiu a musica espectral de flautas e alaúdes.

    Os cortesãos acorreram até as janelas, e o que viram os chocou. Os cidadãos assombrados de Gilead haviam aberto o caminho para deixar passar uma delegação dos mais ricamente vestidos homens e mulheres que alguém jamais havia visto. O líder deles, um mago envelhecido, aproximou-se do Grande Salão e postou-se embaixo da janela central da sala do trono. Bateu com o cajado no chão, ele solicitou permissão para subir. O povo do Primal, os inimigos mais antigos da humanidade, havia chegado trazendo presentes de paz para o novo rei.

    Arthur e sua corte jamais haviam visto algo mais lindo que aquelas esferas. Elas pareciam reluzir com a própria magia da qual foram feitas, e o desejo de tocá-las, segura-las, olhar em suas profundezas, era devastador. Uma a uma, o rei de Eld segurou as esferas enquanto o feiticeiro Merlim pro meteu que trariam paz, prosperidade e sabedoria ao seu rei no. E, no entanto, enquanto Arthur passava cada globo para seus conselheiros de mais confiança, seu rosto, e os rostos deles, começaram a mudar.

    Onde antes houve generosidade agora havia ganância. Onde antes houve confiança, agora havia suspeita, e quando Arthur elevou a bola rubra sobre sua cabeça para exibi-la aos seus seguidores, ele momentaneamente olhou para sua corte através de sua distorção colorida.

    De repente, aqueles a quem ele conhecerá como honestos apareceram enganadores, e os que ele achara leais agora tinham os sorrisos escaninhos de traidores. Até mesmo a rainha Rowena, sua adorável e jovem esposa, parecia feia como uma bruxa.

    O rei que descera do trono não era o mesmo que subira até lá pouco antes. Era grosseiro, desconfiado e impaciente. O resto da corte não pareceu notar, mas sir Kay notou. Ele suspeitava de que os hospedes não convidados do rei haviam trazido com eles um encantamento maligno.

    O banquete começou, e que acontecimento tumultuoso ele foi. Homens ficaram embriagados e dançaram sobre as mesas. Mulheres tiraram os sapatos, levantaram as saias e giravam dançando de um parceiro para o outro. Servos jogavam pedaços enormes de carne para os cães que espreitavam ao redor dos pés dos celebrantes, a fim de ver os animais lutando uns contra os outros. E, durante isso tudo, Arthur ignorava seus cortesãos, seus conselheiros e sua esposa. Ele só tinha olhos para a Rainha Rubra do Primal.

    Sem pedir licença para se retirar da festa, sir Kay voltou aos seus aposentos. Tudo ali estava terrivelmente errado, ainda que ele fosse o único que conseguisse ver isso. Mais tarde naquela noite, quando o resto dos cortesãos tombou num sono de embriaguez, ele saiu para espionar os hospedes não convidados da corte.

    Mas o que encontrou nem mesmo ele havia esperado. Quando o ultimo dos cortesãos havia adormecido, os senhores e as damas do Primal despiram-se de suas peles humanas. Não eram homens nem mulheres, mas grande insetos devoradores de gente! Tapando a boca com a Mao para evitar um grito, sir Kay desloco-se por entre as sombras, andando ao largo dos monstros que se alimentavam, procurando por Arthur. Quando o encontrou o rei estava inconsciente. Pior: estava nos braços de uma aranha vermelha gigante.

    Gritando o nome de Arthur, sir Kay atacou a aranha e a perfurou com sua espada. A aranha gritou e mordeu sir Kay, mas afora gravemente ferida. Quando fugiu, seu sangue negro queimou a grama.

    Quando a corte despertou, as criaturas do Primal haviam desaparecido, mas muitos dos cortesãos também. Uivando de tristeza, os servos cobriram os corpos dos mortos semi-devorados, e os conselheiros em pânico acorreram em busca doe seu rei. Eles o Acharam, ainda inconsciente, no jardim. Ao seu lado, a ferida emanando veneno negro, a espada derretida em sua mão, estava o corpo de sir Kay.

    Embora Arthur tivesse ordenado que as esferas do mago fossem quebradas, o vidro forjado sobre o fogo imorredouro da caverna de Merlim provou-se inquebrável. Sendo assim, elas foram enterradas numa caverna secreta, mas nem mesmo isso funcionou conforme o planejado. Atraídos por seu brilho, ladrões logo descobriram esse esconderijo, e o Arco-Íris de Merlim encontrou seu caminho para o mundo mais um a vez.

    Todavia, a sobrevivência das esferas demoníacas não era a única preocupação de Arthur. Embora o casal real fosse visitado por todos os médicos e parteiras do reino, a rainha Rowena permanecia estéril. Em vez disso, foi a Rainha Rubra quem engravidou. Um ano depois, ela deu a luz a uma criança que era ao mesmo tempo homem e aranham, e o declarou herdeiro de Arthur. Assim como seu pai havia jurado, o Príncipe Vermelho estava ligado a Torre por juramente. Porém, enquanto uma criança humana teria jurado defende-la, o filho monstruoso de Arthur estava determinado a destruí-la. A paz do Mundo Total havia acabado antes de ter começado.

    Mas o kA é uma roda, e em seus girar, até mesmo a sorte dos maus deve mudar. Agachado em sua caverna, olhando para seu cristal da visão, Merlim teve uma revelação que o perturbou. Com base nela, fez uma profecia para a Rainha Rubra. Sua prole prosperaria, espalhando uma nova espécie de caos por entre os múltiplos mundos. No entanto, um dia, um descendente humano se levantaria para desafiá-lo. Embora mortal, esse filho de Eld seria marcado pela escuridão como uma criatura da magia. Ele perseguiria os servos do Primal de século a século e de nível da realidade a outro. Esta criança humana se chamaria Roland, e seria o ultimo campeão da Torre. Como um guerreiro do Branco, ele destruiria as Trevas Exteriores. A menos que fosse destruído, ele mataria o Príncipe Rubro e reinaria no poder do Primal para sempre.

    Estrito por:
    Robin Furth

    Ilustrado por:
    Jae Lee e Richard Isanove

    Tradução e Adaptação:
    Fábio Fernandes

LÍNGUA SUPERIOR

Aprenda alguns termos usados pelos personagens. Afinal, um pistoleiro que se preze deve saber a Língua superior.

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Leia um pouco mais sobre a importância desse numero na saga "A torre negra" Aqui.

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