Livro da Semana: Belas Adormecidas

Título Original: Sleeping Beauties
Título Traduzido: Belas Adormecidas
Data de Publicação nos EUA: 26/09/2017
Data de Publicação no Brasil: 16/10/2017
Personagens Principais: Clinton Norcross, Lila Norcross, Evie Black, Frank Deary
Páginas: 728
Disponível no Brasil pelas Editoras: Suma de Letras (Outubro de 2017)

SINOPSE

Pelo mundo todo, algo de estranho começa a acontecer quando as mulheres adormecem: elas são imediatamente envoltas em casulos. Se despertadas, se o casulo é rasgado e os corpos expostos, as mulheres se tornam bestiais, reagindo com fúria cega antes de voltar a dormir. Em poucos dias, quase cem por cento da população mundial feminina pegou no sono. Sozinhos e desesperados, os homens se dividem entre os que fariam de tudo para proteger as mulheres adormecidas e aqueles que querem aproveitar a crise para instaurar o caos. Grupos de homens formam as “Brigadas do Maçarico”,incendeiam em massa casulos, e em diversas partes do mundo guerras parecem prestes a eclodir. Mas na pequena cidade de Dooling as autoridades locais precisam lidar com o único caso de imunidade à doença do sono: Evie Black, uma mulher misteriosa com poderes inexplicáveis. 

CRÍTICA

Depois dos livros de Bill Hodges, uma série sucinta e repleta de suspense, Belas Adormecidas mostra um Stephen King de volta aos seus velhos truques. Um romance longo que coloca uma vasta gama de personagens contra uma premissa especulativa: uma doença do sono que atinge toda a população feminina, deixando os homens à mercê.

No meio deste enredo particular está a pequena cidade chamada Dooling em West Virgina, um microcosmo do que é certo ou errado, do forte e do fraco. Lá os temperamentos explodem, quando uma série de homens percebem que suas esposas, filhas, mães ou irmãs podem desaparecer para sempre. Em outras palavras, é Sob A Redoma: capítulo II. Só que desta vez, o Escritor Fiel resolveu utilizar um de seus filhos na diversão.

Autor de uma excelente coletânea de contos e um romance demasiado detalhado sobre seu amor à tela de cinema, Owen King é capaz de grandeza, porém, ao contrário de seu pai, nem sempre mantém o mesmo nível. Eu esperava vê-lo no seu melhor aqui, entretanto, é difícil sequer notá-lo, tão consistente é a colaboração dos dois. Mesmo sendo tão complicado dizer quando um King começa e o outro King termina, Belas Adormecidas é tão árduo que dificilmente importa.

O espetáculo inicia com um extenso grupo de personagens. Cerca de setenta personagens, incluindo até mesmo uma raposa falante, são expostas no palco no início do primeiro ato, que narra a propagação da estranha doença contagiosa chamada Gripe Aurora, uma referência à princesa de Walt Disney no conto de fadas A Bela Adormecida.

Pouco a pouco, as detentas na prisão feminina do condado de Dooling começam a cair no sono, e Clint Norcross, o nosso herói e psicólogo responsável na prisão, encontra-se em uma situação sem saída. Quando uma de suas detenas favorita começa a dormir, Clint fica impotente e não consegue impedir que uma espécie de casulo se forme sobre o seu rosto. Ele quer acordá-la, simplesmente rasgando o casulo feito de mucos e outras secreções, mas neste meio tempo a Gripe Aurota já está em todos os noticiários. Aparentemente, as mulheres afetadas que tiveram os casulos violados transformaram-se em assassinas viciosas, atacando qualquer homem que ousassem perturbar seus sonhos. O melhor é deixar as mulheres dormindo.

Esse problema engrena o segundo ato, depois do primeiro dia de pesadelo. Bebidas energéticas e suplementos medicinais, sem mencionar substâncias ilegais, tornam-se produtos de primeira necessidade. Quando a demanda começa a ultrapassar a oferta, a sociedade praticamente desmorona. Tumultos, saques e linchamentos são os resultados. Tudo para manter as mulheres acordadas.

Felizmente, a xerife do condado de Dooling, e também nossa heroína, Lila Norcross, tem outras opções: uma sala de evidências cheia de drogas. Sendo uma representante da ordem e lei, Lila luta contra a ideia de consumir essas drogas. Devido às circunstâncias, essa luta não vai durar muito tempo. Para Lila, a preservação da lei e ordem é mais importante do que nunca. Principalmente depois que alguns homens se convencem de que a Gripe Aurora é contagiosa, e começam a incinerar mulheres dormentes.

Por ser a figura heróica no livro, Lila tem outras motivações para ficar acordada. O que a salvou de ser atingida pela primeira onda da gripe foi uma chamada para uma cena de um duplo assassinato. Uma vez no local do crime, ela apreende a assassina: uma linda mulher jovem chamada Evie – e a Evie pode ser a chave desse enigma. Existe algo bem diferente sobre ela. Ela é imune à doença (consegue dormir e acordar) e, além disso, ela pode… falar com raposas.

O primeiro terço do livro é uma experiência maçante. As partes de Lila e sua sensata perspectiva dão um pouco de vivacidade ao texto. Infelizmente, ela passa a ter um papel secundário na segunda parte do livro, pois seu marido Clint toma as rédeas de um suposto herói. Há algo idiótico sobre isso, sobre a noção de que todas as personagens principais orbitam ao redor de Clint de alguma forma, e este é um dos elementos mais problemáticos da própria premissa do texto.

Os Kings não se importam em perguntar o que aconteceria se todas as mulheres do mundo dormissem. Em vez disso, eles querem saber o que os homens fariam em tal situação. Para piorar as coisas, eles nem sequer tem uma resposta interessante para essa pergunta. Sem o “sexo sensível” para suavizar as tensões, os homens se comportam exatamente como os estereótipos nos levam a acreditar: mal.

Do jeito que está, Belas Adormecidas é uma leitura maçante, cheia de tiros e gritos gratuitos, porém vazia em todos os outros sentidos. É um livro tão grande, que você será perdoado ao pensar que muita coisa está acontecendo, quando na verdade não está. Com exceção de Lila, e talvez a diretora da prisão que aparece no início da narrativa, as outras personagens são tão sem graça como um pão sem manteiga. O estereótipos permanecem o mesmo: mulheres são as que curam e os homens ou são guerreiros ou idiotas que merecem morrer. No final, parecia que o livro queria dizer algo importante e significativo sobre as relações de gênero, mas fica no básico “vamos tentar viver juntos”.

Centenas de páginas adentro, uma personagem se pergunta: Qual o significado disse tudo? Qual o motivo? Sinceramente, eu também não sei. Em suma, Belas Adormecidas é um livro vazio em tema e significado, e por vezes, ofensivo.

Aproxime-se com cuidado, Leitor Fiel.

Gostou deste conteúdo? Compartilhe!

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *