Livro da Semana: “Coração Assombrado – A Biografia”

Título Original: Haunted Heart: the life and times of Stephen King
Título Traduzido: Stephen King – Coração Assombrado, A Biografia
Ano de Publicação: 2010 (EUA), 2013 (Brasil)
Disponível no Brasil pelas Editoras: DarkSide Books
Páginas: 313
Encadernação: Capa Dura
Tradução: Cláudia Guimarães

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RESENHA

Quando li pela primeira vez, em 2010, sobre a publicação de “Haunted Heart: the life and times of Stephen King”, uma biografia não autorizada (seria uma surpresa enorme se tivéssemos uma devidamente autorizada, afinal, o mais perto disso que provavelmente chegaremos é “On Writing”, uma espécie de “guia sobre como escrever um romance” e “quase autobiografia” lançado por Steve em 2000), a primeira impressão – preconceituosa, admito – que tive foi: Mais um caça-níquel tentando fazer um pouco de dinheiro com a grife “Stephen King”. Desse modo, não me dei ao trabalho de ler o livro. As informações que, como fã (normal, não do tipo obcecado, com os quais o Sr. Steve e provavelmente grande parte dos autores best sellers que o acompanham nas listas dos mais vendidos do New York Times, precisam lidar diariamente) já me bastavam e eram suficientemente convincentes, a ponto de não querer saber mais do que eu já sabia sobre a vida de um dos meus autores prediletos. Sentia, de certo modo, que se agisse ao contrário estaria invadindo a privacidade de um homem que respeito e admiro, apesar de nunca ter conhecido pessoalmente (talvez por isso o meu interesse em biografias seja tão escasso, já que essa linha de raciocínio se estende para os outros autores e personalidades públicas – poucas – que realmente admiro). O próprio Steve já deixou claro que sua interação com fãs e leitores se faz, em primeira instância, através dos seus livros (quem já leu os longos prefácios que o autor costuma escrever em seus romances sabe muito bem do que ele está falando), e se ele mesmo pensa assim, quem somos nós, meros mortais, para contrariá-lo!? Infelizmente, para ao azar do Sr. King (ou sorte… Isso depende muito do ponto de vista), “Coração Assombrado”, a versão brasileira da biografia que citei algumas linhas acima, me fez abandonar por completo este preconceito.

Foi quando tive o prazer de acompanhar um pouco mais de perto o lançamento do livro no Brasil, quando fui contatado pelo pessoal da DarkSide Books (editora responsável pelo lançamento de livros como “Os Goonies”, “Evil Dead” e o mais recente relançamento de “Psicose”, todos em formato de luxo, com capa dura), que resolvi dar realmente uma chance para a biografia de Lisa Rogak, me despindo de todos os meus preconceitos, e para a minha completa alegria, eu estava errado: “Coração Assombrado” não é apenas mais um caça-níquel (apesar, é claro, de ser inegável a influência que o nome “Stephen King” provavelmente trouxe para a divulgação da obra, tanto lá fora quanto aqui). Ao invés disso, me deparei com um relato sincero e extremamente detalhista, da vida de um dos maiores autores da literatura contemporânea.

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Dois principais aspectos me impressionaram, enquanto eu lia o livro, que foi indicado ao prêmio Edgar Allan Poe de melhor biografia: O primeiro diz respeito ao quanto nós realmente não conhecemos uma pessoa, mesmo que tenhamos lido todos os seus livros e que saibamos, até mesmo dos detalhes mais íntimos de sua vida. Sempre há uma lacuna, uma brecha que nunca conseguiremos (e cujo direito sequer temos) preencher, porque o King (ou Steve, como ele mesmo gosta de ser chamado) público é completamente diferente do Steve particular. Quando você se torna um escritor reconhecido mundialmente, separar sua vida profissional da particular é, além de normal, extremamente necessário. Por mais que você goste de receber atenção, expor demais sua vida é um erro que o próprio Steve aprendeu a duras penas, como se pode observar em alguns capítulos da biografia, e esta ficha até hoje realmente não tinha caído em mim. Nunca enxerguei o Sr. King como uma máquina literária, sem sentimentos, é claro, mas também nunca passou por minha cabeça, por mais simples e tola que seja esta linha de raciocínio, a ideia de que ele é um ser humano como qualquer outro, passível de erros (ainda que a autora tenha sido generosa neste aspecto, ao retratar em minuciosos detalhes a vida do autor), já que sua própria realidade está distante não só geograficamente, mas social e culturalmente também, da minha. Familiarizar-se com a obra, a ponto de acompanha-la quase que religiosamente (sem exageros, é sempre bom frisar) não é necessariamente familiarizar-se com o autor. Alguns fãs pintam um retrato ideal do que eles gostariam que fosse o Stephen King real, mas acabam se desapontando, por exemplo, ao terem um autografo negado ou não receberem a devida atenção que eles acham que deveriam receber, devido ao fato de admirarem tão fielmente e acharem que, de alguma forma (além dos seus livros) o autor tem o direito de responder o fanatismo de alguns no mesmo nível.

Outra coisa que me impressionou bastante, enquanto eu praticamente devorava as 313 páginas de “Coração Assombrado”, foi o grau de detalhismo empregado na pesquisa da autora. Todas as citações e referências foram minuciosamente registradas no final do livro. À Editora DarkSide Books coube o trabalho de preencher as lacunas que faltavam, com as versões brasileiras dos livros e informações adicionais extremamente precisas, nas notas de rodapé, num trabalho de um profissionalismo impecável, já que todas estão, (pelo menos até onde o meu mero conhecimento como fã me permite admitir) corretas. Somando-se a isso tudo, ainda temos um posfácio, de autoria de Cláudia Guimarães, intitulado de “Sob a Redoma”, onde aparecem as informações mais recentes, que não foram incluídas no original, devido à época em que foi lançado), como notícias sobre o lançamento de Dr. Sleep (continuação de “O Iluminado”) e “Joyland”, seus dois mais” recentes trabalhos.

Dividido em capítulos, com nomes que fazem menções à alguns de seus mais conhecidos trabalhos, em ordem cronológica, “Coração Assombrado” é uma fonte quase inesgotável de informações sobre o autor e sua obra. Lá você descobrirá, por exemplo, que os direitos de bolso de “Carrie”, primeiro romance publicado de Stephen King, foram vendidos por 400 mil dólares, (quando Steve pensava ter ouvido “40 mil”, que já era uma quantia considerável para a época). Você conhecerá um pouco mais sobre como é o seu processo de criação e de onde partiram as ideias para os seus romances mais conhecidos como “Cujo” ou “O Iluminado”… Até mesmo a resposta para uma das principais dúvidas dos fãs brasileiros (se o pai de Steve realmente abandonou a família e começou uma nova, com uma brasileira, um “boato” que já corre há algum tempo nas redes sociais) está lá, em trecho particularmente interessante da biografia.

O trabalho gráfico realizado pela DarkSide Books está impecável. Só quem realmente tem o livro em mãos é que sabe o quão bem acabado ele ficou e só quem realmente acompanha e gosta do trabalho de um autor sabe o quanto esse tipo de cuidado com os livros é importante. A capa dura e as imagens no interior (logo nas primeiras páginas já temos uma referência clara à versão de Kubrick de “O Iluminado”, nas folhas que imitam a clássica imagem do tapete utilizado para dar vida aos corredores do Overlook Hotel, no longa metragem) trouxeram uma elegância especial ao livro. Além disso, o cuidado com a precisão das informações e as constantes notas de rodapé, que já foram citadas anteriormente, só demonstram que a versão brasileira de “Haunted Heart” é, além de um ótimo livro (indispensável para àqueles que queiram saber um pouco mais sobre a vida de um dos maiores autores da atualidade), uma bela homenagem à Steve e seus fãs brasileiros.

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2 respostas

  1. eu gosto muito de Stephen King e fiquei em estase quanto li sua bibliografia e principalmente seus livros que marcaram minha alma.

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